quinta-feira, 8 de outubro de 2009

As Laranjas e o show

Por Gilmar Mauro

Na região de Capivari, interior de São Paulo, quando alguém exagera, tem uma expressão que diz: "Pare de Show!"
É patético ver alguns senadores(as), deputados(as) e outros tantos "ilustres" se revezarem nos microfones em defesa das laranjas da Cutrale. Muitos destes, possivelmente, já foram beneficiados com os "sucos" da empresa para suas campanhas, ou estão de olho para obter "vitaminas" no próximo pleito. Mas nenhum deles levantou uma folha para denunciar o grande grilo do complexo Monções. As laranjas, e não poderia ser planta melhor, são a tentativa de justificar o grilo da Cutrale e de outras empresas daquela região. Passar por cima das laranjas é passar por cima do grilo e da corrupção que mantém esta situação há tanto tempo.
Não é a primeira vez que ocupamos este latifúndio. Eu mesmo ajudei a fazer a primeira ocupação na região, em 1995, para denunciar o grilo e pedir ao Estado providências na arrecadação das terras para a Reforma Agrária. Passados quase 10 anos, algumas áreas foram arrecadadas e hoje são assentamentos, mas a maioria das terras continua sob o domínio de grandes grupos econômicos. E mais, a Cutrale instalou-se lá há 4 ou 5 anos, sabendo que as terras eram griladas e, portanto, com claro interesse na regularização das terras a seu favor. Para tanto, plantou laranjas! Aliás, parece ter plantado um laranjal em parte do Congresso Nacional e nos meios de comunicação. O que não é nenhuma novidade!
Durante a nossa marcha Campinas-São Paulo, realizada em agosto, um acidente provocou a morte da companheira Maria Cícera, uma senhora que estava acampada há 9 anos lutando para ter o seu pedaço de terra e morreu sem tê-lo. Esta senhora estava acampada na região do grilo, mas nenhum dos ilustres defensores das laranjas pediu a palavra para denunciar a situação. Nenhum dos ilustres fez críticas para denunciar a inoperância do Executivo ou Judiciário, em arrecadar as terras que são da União para resolver o problema da Dona Cícera e das centenas de famílias que lutam por um pedaço de terra naquela região, e das outras milhares de pessoas no país.
Poucos no Congresso Nacional levantam a voz para garantir que sejam aplicadas as leis da Constituição que falam da Função Social da Terra:
a) Produzir na terra;b) Respeitar a legislação ambiental ec) Respeitar a legislação trabalhista.
Não preciso delongas para dizer que a Constituição de 1988 não foi cumprida. E muitos falam de Estado Democrático de Direito! Para quem? Com certeza estes vêem o artigo que defende a propriedade a qualquer custo. Este Estado Democrático de Direito para alguns poucos é o Estado mantenedor da propriedade, da concentração de terras e riquezas, de repressão e criminalização para os movimentos sociais e para a maioria do povo.
Para aqueles que se sustentam na/da "pequena política", com microfones disponíveis em rede nacional, e acreditam que a história terminou, de fato, encontram nestes episódios a matéria prima para o gozo pessoal e, com isso, só explicitam a sua pobreza subjetiva. E para eles, é certo, a história terminou. Mas para a grande maioria, que acredita que a história continua, que o melhor da história sequer começou, fazem da sua luta cotidiana espaço de debate e construção de uma sociedade mais justa. Acreditam ser possível dar função social à terra e a todos os recursos produzidos pela sociedade. Lutam para termos uma agricultura que produza alimentos saudáveis em benefício dos seres humanos sem devastação ambiental. Querem e, com certeza terão, um mundo que planeje, sob outros paradigmas que não os do lucro e da mercadoria, a utilização das terras e dos recursos naturais para que as futuras gerações possam, melhor do que hoje, viver em harmonia com o meio ambiente e sem os graves problemas socias.
A grande política exige grandes homens e mulheres, não os diminutos políticos - não no sentido do porte físico - da atualidade; a grande política exige grandes projetos e uma subjetividade rica - não no sentido material - que permita planejar o futuro plantando as sementes aqui e agora. Por mais otimista que sejamos, é pouco provável visualizar que "laranjas" possam fazer isso. Aliás, é nas crises, é nos conflitos que se diferencia homens de ratos, ou, laranjas de homens.
Gilmar Mauro é integrante da coordenação nacional do MST.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Mercedes Sosa : A voz da Resistência

No amanhecer do último domingo nos deixou uma das grandes vozes latino-americanas, a cantora Mercedes Sosa. Nascida em uma pequena cidade argentina no ano de 1935, Mercedes sosa, também conhecida como La Negra, devido sua ascendência ameríndia, foi ícone da canção e da cultura Latino-americana.

Em sua voz ouvimos versos de Pablo Neruda, de Violeta Parra, de Victor Jara e Gabriela Mistral e canções como Hasta La victoria Siempre, Gracias a la vida e Corazón Libre. Embalou e comoveu gerações de homens e mulheres latino-americanos oprimidos pelas ditaduras militares que assolaram a América do Sul nos anos 70 e 80, sendo também vítima, sofrendo na pele as dores do exílio. Apesar disso, nunca deixou o compromisso político com os ideais de liberdade, igualdade e justiça social para os povos latino-americanos, com a atitude de sua voz e seu ativismo político.

Levou para o mundo as tradições e a cultura popular dos povos da América-Latina, cantando seus lamentos, tristezas e a perspectiva da mudança diante de realidades tão sofridas.

Seu funeral foi seguido por milhares de admiradores, que com aplausos, lágrimas e canções fizeram sua última homenagem a esta grande voz que deixou marcas profundas nas últimas décadas do século 20 e uma obra eternizada para gerações futuras .

Como escreveu Teresa Parodi, uma das amigas mais próximas, em seus versos de despedida: "Mercedes, oração amorosa, mãe, mulher da América ferida, tua canção nos põe asas e faz com que a pátria toda e desolada não morra ainda porque sempre cantarás em nossas almas".

Com certeza, esta voz se cala por apenas um instante, pois suas mensagens de liberdade, democracia e justiça ressoarão perenemente nos corações e mentes desta América-Latina tão espoliada, mas símbolo de revoluções e movimentos insurrecionais.




CANAL LIVRE ? PRÁ QUEM?



NAS ÚlTiMAS SEMANAS O PROGRAMA CANAL LIVRE DA REDE BANDEIRANTES DE TV, TRATOU DE DOIS TEMAS QUE REPECUTEM ATUALMENTE NA SOCIEDADE BRASILEIRA, O PRIMEIRO A RESPEITO DA SITUAÇÃO POLÍTICA DE HONDURAS E O SEGUNDO SOBRE A POLÍTICA DE COTA RACIAL NAS UNIVERSIDADES PÚBLICAS. COTANDO SEMPRE COM UMA BANCADA PRONTA A DEBATER A PARTIR DE UMA ÓTICA CONSERVADORA E ELITISTA, NO CASO DE HONDURAS E A PARTICIPAÇÃO DA DIPLOMACIA BRASILEIRA, FICOU CLARO A TENTATIVA DE INVERTER A SITUAÇÃO E CULPABILIZAR O GOVERNO BRASILEIRO E O PRESIDENTE DEPOSTO ZELAYA PELA SITUAÇÃO TENSA NO PAÍS NOS ÚLTIMOS DIAS , O PROGRAMA CONTOU APENAS COM UM CONVIDADO ( UM ADVOGADO POR SINAL) QUE DEFENDEU A IDÉIA DE QUE NÃO HOUVE UM GOLPE DE ESTADO, MAS UMA AÇÃO DOS PODERES LEGISLATIVO E JUDICIÁRIO PARA PROTEGER O ESTADO HONDURENHO DE UMA PERPETUAÇÃO NO PODER DE ZELAYA E TODOS OS PROCEDIMENTOS POLÍTICOS DO PROCESSO DE DEPOSIÇÃO DO PRESIDENTE, DEMOCRATICAMENTE ELEITO, ESTAVAM GARANTIDOS PELA CONSTITUIÇÃO HONDURENHA. TANTO O CONVIDADO COMO OS DEBATEDORES DO PROGRAMA TIRAM O FOCO DA AÇÃO DOS MILITARES E CENTRAM FOGO CERRADO NA DIPLOMACIA BRASILEIRA , NO PRESIDENTE VENEZUELANO HUGO CHAVES E NAS SUPOSTAS INTENÇÕES DE REELEIÇÃO DE ZELAYA, DIZENDO SER INTOLERÁVEL MUDAR AS REGRAS DO JOGO COM O JOGO EM ANDAMENTO, E O RESPONSÁVEL PELA MUDANÇA SE BENEFICIAR DELA, PARECE-ME QUE ALGO PARECIDO ACONTECEU EM NOSSO PAÍS EM 1996, SEI LÁ ENTENDE...
NO PROGRAMA SOBRE COTA RACIAL, O CONVIDADO ( SEMPRE A POSTOS) DEMETRIO MAGNOLI FALOU SOBRE SEU NOVO LIVRO E JUNTAMENTE COM OS DEBATEDORES QUISERAM IMPUTAR A POLÍTICA DE COTAS RACIAIS UMA POSSÍVEL SEGREGAÇÃO RACIAL NO NOSSO PAÍS, COMO SE GRANDE PARTE DA POPULAÇÃO NEGRA E POBRE NO BRASIL JÁ NÃO ESTIVESSE APARTADA DE QUALQUER ACESSO A CIDADANIA PLENA, COM UM DISCURSO SEDUTOR MAGNOLI TENTA CONVENCER DE QUE O PROBLEMA DO ACESSO A UNIVERSIDADE É APENAS SOCIAL E QUE O ALUNO BRANCO NÃO DEVE PAGAR PELOS CRIMES DA ESCRAVIDÃO DE SÉCULOS PASSADOS, RETOMANDO A VELHA QUESTÃO QUE A ESCRAVIDÃO PARA O NEGRO ERA CASTIGO E PARA O BRANCO ERA UMA FARDO.

NESTES DOIS EXEMPLOS FICA CLARA A MANEIRA DESCARADA QUE NOSSA MÍDIA VEM TRATANDO OS TEMAS NACIONAIS DE FORMA CONSERVADORA E Á DIREITA, TENTANTO INVERTER SITUAÇÕES, CRIMALIZANDO MOVIMENTOS SOCIAIS E CHAMANDO PRA SI A RESPOSABILIDADE DA MANUTENCÇÃO DA DEMOCRACIA E DO ESTADO DE DIREITO BRASILEIRO, COMO SE LIBERDADE DE IMPRENSA (QUAL IMPRENSA?) FOSSE SINÔNIMO DE CIDADANIA E JUSTIÇA SOCIAL.