quinta-feira, 1 de abril de 2010

O Especular


O Especular deletério
de minha face fatigada
sobre a superfície fria e polida
E de moldura amadeirada
Percebo meu rosto cindido, bifurcado
como o crepúsculo e aurora degladiando-se
nos limites dos astros, sem luz própria.
Atento para os fios espessos e mal aparados
que cerram minha face partida e
alertam prodigiosamente a negligência pesssoal:
Um Narciso às avessas?

A projeção de mim mesmo,
ou de "eus" rendidos a especulações
de outros reflexos recalcados
me remetem a imagens fragmentadas
de um ser prolixo
que condenado as demandas da banalidade
não suporta o auto conhecer-se
E a luz que recai sobre o espelho,
incandesce o outro refletido.
Fingido! que nos meus olhos não fita
cuspindo verborragia
acusando-me de supostos delitos estéticos
contra ele cometidos.

Acuado e suplantado
pela dolorosa experiência de imagens invertidas,
e de conhecer a si próprio, sem jamais saber quem fosse,
cerro meus olhos ludibriados
para afastar a fantasmagoria do mundo refletido.
A claridade encerra-se,
os cacos imagéticos de minha face fracionada
desaparecem de maneira súbita.
O que permaneceu de minha especulação?
Um eu difuso,
uno, indivisível
O breu.

Jefferson Santos

Segredo de seus olhos, um prêmio merecido



Há duas semanas tive a oportunidade de assistir no cinema a produção argentina ganhadora do Oscar de melhor filme estrangeiro, " O Segredo de seus Olhos" . Não influenciado pelo Oscar em si, afinal sou um admirador do cinema argentino, inclusive de outras obras do cineasta Juan José Campanella, como o Filho da Noiva e Clube da Lua, que sempre primaram por uma narrativa com pitadas de comédia e elementos de um belo romance. Juan Jose Campanella consegue aliar ainda a este seu novo filme o suspense policial.
Um filme sensacional. Um suspense que prende a atenção do começo ao fim. Belissimas cenas que se entrelaçam a uma trama sufocante e surpreendente que até o espectador mais atento possível não consegue ter palavras concretas do que realmente sentiu. Um filme emocionante. Porém maior emoção ainda é compartilhar esse mesmo sentimento com o público que aplaude de pé e que sabe reconhecer a potencialidade, a sensibilidade e paixão dos realizadores ao seu projeto que não consegue ser mais um filme comum e sim uma expressão pura do cinema: Que deixa todos quietos, que o silêncio é a porta de entrada para ouvir cada palavra, cada som que explode na tela. Belíssimo filme e recomendadissimo.