quinta-feira, 1 de abril de 2010

O Especular


O Especular deletério
de minha face fatigada
sobre a superfície fria e polida
E de moldura amadeirada
Percebo meu rosto cindido, bifurcado
como o crepúsculo e aurora degladiando-se
nos limites dos astros, sem luz própria.
Atento para os fios espessos e mal aparados
que cerram minha face partida e
alertam prodigiosamente a negligência pesssoal:
Um Narciso às avessas?

A projeção de mim mesmo,
ou de "eus" rendidos a especulações
de outros reflexos recalcados
me remetem a imagens fragmentadas
de um ser prolixo
que condenado as demandas da banalidade
não suporta o auto conhecer-se
E a luz que recai sobre o espelho,
incandesce o outro refletido.
Fingido! que nos meus olhos não fita
cuspindo verborragia
acusando-me de supostos delitos estéticos
contra ele cometidos.

Acuado e suplantado
pela dolorosa experiência de imagens invertidas,
e de conhecer a si próprio, sem jamais saber quem fosse,
cerro meus olhos ludibriados
para afastar a fantasmagoria do mundo refletido.
A claridade encerra-se,
os cacos imagéticos de minha face fracionada
desaparecem de maneira súbita.
O que permaneceu de minha especulação?
Um eu difuso,
uno, indivisível
O breu.

Jefferson Santos

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