segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Políticas de cotas: um caminho para o racismo?

Começo este texto como uma indagação, mas ao mesmo tempo este é o cenário vislumbrado por aqueles que são ferozmente contra a política de cotas para negros e afro-descendentes em Universidades Públicas no Brasil . O geógrafo Demétrio Magnoli, mas também especialista em qualquer assunto quando chamado pela direita para dar pitaco, lançou um livro sobre o assunto e reforça ainda mais esta idéia da segregação racial que seria criada em um futuro de políticas de cotas e de ações raciais afirmativas, teríamos um país divido entre brancos e negros, e a raça seria nossa carteira de identidade, palavras do autor.

Juntamente com esta visão de um país segregado, todos os que se levantam contra a política de cotas raciais tem seu argumento baseado em dois elementos:

O primeiro, a necessidade premente da melhoria da qualidade da educação básica pública para possibilitar uma situação de igualdade entre alunos da educação pública e privada. Contra esse argumento ninguém com certeza é contra, precisamos de reformas urgentes na educação básica, mas isso é um processo lento, de décadas, para quando a educação for pensada realmente como política pública, mas o que temos sempre são arremedos de reformas no ensino, ficando difícil vislumbrar mesmo que a longo prazo um educação pública de qualidade. O segundo elemento levantado contra as cotas é o seu quesito racial, muitos defendem que a cota deveria ser social, cota para pobres, sejam eles brancos ou negros, novamente outro argumento que parece óbvio e por isso tão sedutor dos setores médios da sociedade, outra falácia pois a maioria da população pobre é negra ou afro-descendente, os negros tem os menores salários e menor poder aquisitivo mesmo em relação aos brancos pobres. Como podemos observar são dois argumentos que na verdade fazem parte do mesmo discurso, excluir os negros das universidades públicas brasileiras e reforçar o ideário de que no Brasil não existe racismo, como diz o novo arauto da democracia racial Ali Kamel, chefe de jornalismo da globo, o problema aqui é a desigualdade social e não racial.

A historiadora Emilia Vioti em seu ótimo trabalho chamado Abolição, relançado ano passado pela editora da Unesp coloca com tamanha propriedade o que significou de fato a abolição legal dos escravos em maio de 1888, foram abandonados a própria sorte não foram incluídos como cidadãos e que o legado de 300 anos de trabalho negro escravo no Brasil este não foi abolido e se faz presente hoje nas diversas dimensões do universo social brasileiro, inclusive no acesso a educação de qualidade.

Então pensar políticas de cotas raciais, é pensarmos sim , em políticas de reparação não só aos negros, mas aos povos indígenas espoliados nos últimos cinco séculos. Uma política urgente de inclusão e de ação afirmativa, o negro assumir sua negritude sem receios, sem ter medo de ser acusado de um racismo às avessas, por mais que torça o nariz a elite conservadora e os setores médios deste país.

Retornando ao título do texto, será as cotas um caminho para o racismo? Com certeza este caminho já está mais que sedimentado e percorrido em 500 anos de história do Brasil, o que precisamos mesmo é pavimentar outras vias assentadas em uma sociedade na qual as diferenças raciais e culturais não sejam sinônimo de desigualdade e discriminação, mas sim de riqueza e diversidade cultural.

Nenhum comentário:

Postar um comentário